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Poemas de Abril

  O que aquela noite me quis dar   Eu não estava em casa nessa noite, filho, nem podia estar. Estava nas ruas com os soldados que rumavam às rádios e aos quartéis, engalanados de sombra e de júbilo, a ver o que aquela noite ia dar, o que a nossa liberdade prometia ser. E tu, filho, tinhas a idade rumorejante desse Abril embalado por uma canção do Zeca. Como posso eu explicar-te tudo aquilo que tu nasceste para aprender, para viver? Eu estava aquartelado no meu silêncio de pétalas, sílabas e marés, no meu dédalo de vozes embriagadas pelo vento, na coragem errante das pelejas da infância e pouco ou nada sabia do mistério desse mês capaz de transformar em assombro as nossas vidas.   Sim, sou eu neste retrato antigo, a receber em festa os exilados, os que chegavam com grinaldas de cantigas e a flor de uma ilusão bordada a sangue e espuma no capote das nocturnas caminhadas. Sim, sou eu a escrever a primeira reportagem do primeiro de muitos dias em

Poemas de Abril

  Grândola, vila morena   Grândola, vila morena Terra da fraternidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti, ó cidade   Dentro de ti, ó cidade O povo é quem mais ordena Terra da fraternidade Grândola, vila morena   Em cada esquina um amigo Em cada rosto igualdade Grândola, vila morena Terra da fraternidade   Terra da fraternidade Grândola, vila morena Em cada rosto igualdade O povo é quem mais ordena   À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade Jurei ter por companheira Grândola a tua vontade. Zeca Afonso, 1971

Poemas de Abril

  As mãos   Com mãos se faz a paz se faz a guerra Com mãos tudo se faz e se desfaz Com mãos se faz o poema – e são de terra. Com mãos se faz a guerra – e são a paz.   Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra. Não são de pedra estas casas mas de mãos. E estão no fruto e na palavra as mãos que são o canto e são as armas.   E cravam-se no Tempo como farpas as mãos que vês nas coisas transformadas. Folhas que vão no vento: verdes harpas.   De mãos é cada flor cada cidade. Ninguém pode vencer estas espadas: nas tuas mãos começa a liberdade.   Manuel Alegre, in “O Canto e as Armas”

Poemas de Abril

  Menina dos olhos tristes   Menina dos olhos tristes o que tanto a faz chorar o soldadinho não volta do outro lado do mar.   Vamos senhor pensativo olhe o cachimbo a apagar o soldadinho não volta do outro lado do mar.   Senhora de olhos cansados porque a fatiga o tear o soldadinho não volta do outro lado do mar.   Anda bem triste um amigo uma carta o fez chorar o soldadinho não volta do outro lado do mar.   A lua que é viajante é que nos pode informar o soldadinho já volta está mesmo quase a chegar. Vem numa caixa de pinho do outro lado do mar desta vez o soldadinho nunca mais se faz ao mar.     Zeca Afonso

Poemas de Abril

  25 de Abril   Esta é a madrugada que eu esperava O dia inicial inteiro e limpo Onde emergimos da noite e do silêncio E livres habitamos a substância do tempo   Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

Poemas de Abril

  Trova do Vento que Passa   Pergunto ao vento que passa notícias do meu país e o vento cala a desgraça o vento nada me diz.   Pergunto aos rios que levam tanto sonho à flor das águas e os rios não me sossegam levam sonhos deixam mágoas.   Levam sonhos deixam mágoas ai rios do meu país minha pátria à flor das águas para onde vais? Ninguém diz.   Se o verde trevo desfolhas pede notícias e diz ao trevo de quatro folhas que morro por meu país.   Pergunto à gente que passa por que vai de olhos no chão. Silêncio - é tudo o que tem quem vive na servidão.   Vi florir os verdes ramos direitos e ao céu voltados. E a quem gosta de ter amos vi sempre os ombros curvados.   E o vento não me diz nada ninguém diz nada de novo. Vi minha pátria pregada nos braços em cruz do povo.   Vi meu poema na margem dos rios que vão pró mar como quem ama a viagem mas tem sempre de ficar. Vi navios a partir (Portugal à flor das águas)

O 25 de Abril num minuto

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Como era Portugal antes do 25 de Abril?