Duas visões sobre o Holocausto



Comemora-se hoje, dia 27 de janeiro, o Dia em Memória do Holocausto. Foi neste preciso dia, em 1945, que se deu a libertação do campo de concentração de Auschwitz Birkenau.



Apresentamos hoje duas visões sobre esse período negro da Humanidade: uma retirada da obra de um sobrevivente, o judeu italiano Primo Levi; outra, retirado do diário de uma das vítimas dos campos de concentração alemães, Anne Frank.



Primo Levi, “Se isto é um homem”, Publicações D. Quixote

"Os vagões eram doze, e nós seiscentos e cinquenta; no meu vagão, éramos só quarenta e cinco pessoas, mas tratava-se de um vagão pequeno. Aqui estava, pois, debaixo dos nossos olhos, debaixo dos nossos pés, um dos famosos comboios militares alemães, aqueles que não voltam, aqueles de que, estremecendo e sempre um pouco incrédulos, tantas vezes ouvíramos falar. Assim mesmo, ponto por ponto: vagões de mercadorias, fechados por fora, e lá dentro homens, mulheres, crianças, apinhados sem piedade, como mercadoria barata, em viagem para o nada, em viagem para baixo, para o fundo. Desta vez, somos nós que estamos lá dentro." (p. 15)



“Uma dezena de SS, mantinha-se à distância, com as pernas afastadas e olhar indiferente. A um dado momento, aproximaram-se e, sem elevar a voz, com um ar impassível, começaram a interrogar alguns de nós, colocando-os à parte, rapidamente: “Que idade tens? De boa saúde ou doente?”. De acordo com a resposta,  parte do grupo dos homens válidos. O que aconteceu aos outros, mulheres, crianças, idosos, nunca o soubemos: a noite engoliu-os, pura e simplesmente. Hoje, no entanto, sabemos que esta triagem rápida e sumária serviu para verificar se éramos ou não capazes de trabalhar para o Reich (…)” (p. 18)



"Häftling [prisioneiro]: aprendi que sou um Häftling. O meu nome é 174 517; fomos baptizados, guardaremos até à morte a marca tatuada no braço esquerdo." (p. 26)







Primo Levi passou pelos horrores de um campo de concentração, mas conseguiu sobreviver. A mesma sorte não teve Anne Frank que, depois de viver escondida com a família num anexo da empresa do pai, acabou por ser presa e enviada para o campo de Bergen-Belsen, onde morreria de febre tifoide.

Durante o tempo em que esteve escondida foi escrevendo o seu diário, através do qual podemos testemunhar as dificuldades por que passaram as judeus nos territórios ocupados pelos alemães.



Anne Frank, Diário, Edições Livros do Brasil

“Como somos judeus, emigrámos, em 1933, para a Holanda, onde o meu pai da Travis-A.-G. (…) A nossa vida decorria com as aflições do costume, pois as pessoas de família que ficaram na Alemanha não escaparam às perseguições de Hitler (…) A partir de 1940 foram-se acabando os bons tempos. Primeiro veio a guerra, depois a capitulação, em seguida a entrada dos alemães. E então começou a miséria. A uma lei ditatorial seguia-se outra; e, em especial para os judeus, as coisas começaram a ficar feias. Obrigaram-nos a usar a estrela e a entregar as bicicletas; não nos deixavam andar nos carros elétricos e muito menos de automóvel. Os judeus só podiam fazer compras das 3 às 5 horas – e só em lojas judaicas. Não podiam sair à rua depois das oito da noite e nem sequer ficar no quintal ou na varanda. Não podiam ir ao teatro nem ao cinema, nem frequentar qualquer lugar de divertimentos (…)” (pp. 20-21)

“Os nossos amigos e conhecidos judaicos são deportados em massa. A Gestapo trata-os sem a menor consideração. Em vagões de gado leva-os para Westerbork, o campo para judeus. Westerbork deve ser um sítio horrível. Estão lá milhares de pessoas e nem há sequer lavatórios nem WC que, de longe, cheguem para todos. (…) A emissora inglesa fala de câmaras de gás. De qualquer forma talvez seja a câmara de gás a maneira mais rápida de se morrer… “







Porque é importante lembrar para que não se volte a repetir…

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