LER+ QUALIFICA
OLHARES
No presente ano letivo de 2018/2019 o Centro Qualifica em parceria com a Biblioteca Escolar da Escola Secundária da Moita desenvolve o projeto Ler+ Qualifica.
No âmbito deste projeto serão levadas a cabo diversas atividades de leitura e literacias.
Para aguçar o apetite, deixamos aqui o texto da formanda Sandra Moás.
No âmbito deste projeto serão levadas a cabo diversas atividades de leitura e literacias.
Para aguçar o apetite, deixamos aqui o texto da formanda Sandra Moás.
José Luís
Peixoto nasceu a 4 de Setembro de 1974, numa aldeia do Alto Alentejo chamada
Galveias. Estudou na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa e, após a licenciatura em Línguas e Literatura Moderna, foi
professor em várias escolas portuguesas e em Cabo Verde, na Cidade da Praia.Em
2001 dedicou se profissionalmente à escrita.
A primeira vez
que ouvi falar deste escritor foi através dos Moonspell, uma banda portuguesa
de Metal/Gótico, pela qual tenho admiração e respeito. Ouvi falar dele por este
se ter juntado a um projeto dos Moonspell, com o livro “Antidoto” e o albúm “The
Antidote”. Esta relação despertou-me a atenção e comecei a pesquisar sobre ele.
O facto deste
escritor ter praticamente a mesma idade que eu, levou-me a comprar o primeiro
livro dele, “Abraço”. Este livro, que fala da sua infância e da sua adolescência,
fez-me recordar e rever-me em muitas das situações lá descritas. Apesar de
termos crescido em sítios bastante diferentes, reconheci-me na sua escrita, nos
seus gostos, na forma de vestir e de estar.
Aventurei-me
então, e comprei um novo livro “Cemitério de pianos”. Este livro trata a
história de 3 gerações da família Lázaro. No início, a história deixa-nos um
bocado confusos porque ambos os narradores se chamam Francisco Lázaro e as suas
historias entrelaçam-se muitas das vezes, sem deixar claro de qual dos
Franciscos se está a falar. As narrativas vão-se desenrolando na oficina do
pai, que era carpinteiro, bem como o filho que partilhava a mesma profissão. Pelo
meio, vai-nos descrevendo quilómetro a quilómetro, a última corrida do
maratonista Francisco Lázaro (o filho) que desfaleceu no 29º Km da prova, nos
jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912. Com o desenrolar da leitura começamos a
perceber a relação entre os Franciscos e a própria maratona. Nesta história
percebemos que o filho do Francisco (neto do primeiro Francisco) nasce no dia
em que o pai morre, após a maratona.
É uma história
triste e alegre, que nos fala das relações entre as famílias, da violência
doméstica, mas que também celebra a vida e a continuidade das gerações. Grande
parte da ação desenrola-se na oficina de carpintaria, cheia de pianos velhos e
à mesa, onde as várias gerações se reúnem.
Foi um livro
que me deixou bastante confusa pelo enredo das diferentes gerações que se
entrelaçam mas, no fim, todas as peças se encaixaram no complexo puzzle que é a
ação deste livro.
Depois deste
livro comprei “Uma casa na escuridão”. Confesso que não estava preparada para o
ler. É uma história sobre um escritor e, logo no início, ficamos a saber que o
pai dele já tinha falecido e que mãe que se encontra ausente deste mundo, sem
qualquer vontade de viver. Ela tem uma escrava que trata dela. Depois, o
narrador conta-nos como se apaixona por uma mulher que vê apenas quando fecha
os olhos, e com a qual comunica através da escrita. Tudo começa a mudar quando
um amigo de infância que se encontrava fora, volta e vai ter com ele. A mãe, entretanto,
descobre a música e começa a recuperar a vontade de viver. Quando pensamos que
a história tem tudo para ter um final feliz, a casa dele é invadida por
soldados, que mutilam todos os habitantes da mesma e passam a dominar tanto a
casa como os seus habitantes. A partir desse instante começam as descrições do
horror. Em cenários dantescos, com personagens esventradas e completamente
mutiladas, submissas aos soldados que invadiram a casa, com relatos de
violações e abusos e, ao mesmo tempo, demonstrando o companheirismo entre os
sobreviventes e a ajuda de quem nada pode fazer, senão estar presente para
apoiar, para dar o ombro para chorar. A crueldade descrita com palavras, que
apesar de serem belas, remetem-nos para uma realidade desagradável, que nos
choca e nos maravilha ao mesmo tempo. Quando estamos a acabar o livro e
pensamos que toda a violência já terminou, uma revelação chocante deixa-nos
quase sem palavras, de coração partido e sem saber como reagir.
Este livro
mexeu bastante comigo. Pela beleza e pela violência, deixou-me revoltada ao
ponto de andar semanas sem o conseguir tirar do pensamento. Eu, que sou uma
leitora assídua, lendo em média cerca de quatro livros por mês, fiquei cerca de
três meses sem conseguir voltar a ler. Este romance foi incluído na edição europeia de "1001 Livros para
Ler Antes de Morrer - Um guia cronológico dos mais importantes romances de
todos os tempos".
Depois de ter
arranjado coragem, talvez um ou dois anos depois, li o livro “Nenhum Olhar” que
foi incluído na lista do Financial Times como um dos melhores romances
publicados em Inglaterra em 2007, tendo também sido incluído no programa
Discover Great New Writers, das livrarias americanas Barnes & Noble.
Este livro retrata
vários personagens fictícios de uma aldeia e da facilidade com que as vidas destes
se cruzam e se misturam. Fala-nos ainda da importância do olhar, da ausência do
mesmo e ainda de como vemos aqueles que nos rodeiam. O mundo acaba quando não
há nenhum olhar. É uma história simples, com momentos divertidos, outros tristes,
com personagens estranhas e situações bizarras.
Já tenho na minha
prateleira mais um livro deste autor, que ainda não li, “O Caminho imperfeito”.
Sinto sempre que preciso de me preparar para ler mais um livro de José Luís
Peixoto. Mesmo assim, nem sempre estou preparada para o que vou encontrar. O
escritor coloca sentimento em cada palavra, repetindo-a por vezes até à exaustão, para
que o leitor tenha consciência da sua importância. É sempre uma aventura mas a beleza das suas palavras e da sua escrita
acaba por nos impelir para o ler mais e mais...
Sandra Moás
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