Autor em destaque - António Torrado

Continuamos hoje a publicação da História do Dia, de António Torrado.


HISTÓRIA DO DIA - 20 DE JANEIRO

Podiam ser amigas 
Era uma vez uma águia.
Era uma vez uma gata.
Era uma vez uma porca.
A águia teve aguiazinhas.
A gata teve gatinhos.
A porca teve porquinhos.
Como boas mães, procuraram abrigo onde resguardar os filhos.
A águia escolheu o alto da ramaria de um frondoso castanheiro.
A gata achou um buraco a meio do tronco do mesmo castanheiro.
A porca cavou uma toca, nas raízes do tal castanheiro.
Eram vizinhas e talvez pudessem ser amigas.
Todas as manhãs, a águia voava do seu ninho, à cata de comida para as aguiazinhas. a gata também saltava do buraco e ia caçar para os seus gatinhos. A porca saía da sua toca e procurava castanhas e bolotas para os seus porquinhos.
Os respetivos filhos cresciam e engordavam, a olhos vistos. As vizinhas viviam felizes e talvez pudessem ser amigas.
Talvez pudessem ser amigas, não fosse a gata uma intriguista. Esta gata selvagem era uma falinhas mansas, mas todas falsas.
Um dia, foi ter com a vizinha de cima e disse-lhe:
- Ai vizinha, estou toda arrepiada. Calcule que ouvi a porca lá de baixo dizer aos filhos que ia começar a roer as raízes do castanheiro para deitar a árvore abaixo. E sabe para quê?
A águia não fazia ideia.
- Para fazer cair o seu ninhos e comer os seus filhinhos - contou a mentirosa da gata. - Se fosse a si tinha muito cuidado e nunca mais abandonava os seus.
A águia ficou muito aflita. Agradeceu imenso o aviso da gata e pôs-se de plantão ao ninho, apesar de os filhos reclamarem por comer.
A gata, cumprida a primeira parte do seu plano, foi ter com a vizinha do rés-do-chão:
- Senhora porca, tome cautela com a águia. Ainda agora a ouvi dizer para os filhos que, da próxima vez que virem a senhora sair da toca, lhe assaltam a casa, para lhe comerem os filhinhos.
A porca ficou muito alarmada.
Também agradeceu imenso o aviso da gata e nunca mais deixou os porquinhos ao desamparo, apesar de eles grunhirem, desesperados com fome.
Como a águia e a porca, sempre de guarda, não saíam pelo comer, iam definhando os filhos e elas perdendo as forças.
A princípio não se podia descansar em redor do castanheiro, tal a barulheira misturada de pios e grunhidos, clamando por comida. Mas as lamentações foram decrescendo, porque as forças foram faltando...
Quando tudo voltou ao silêncio, a gata selvagem e os selvagens dos filhos assaltaram o ninho e banquetearam-se. Em seguida, assaltaram a toca e repetiram o banquete. Parece que, depois, morreram de indigestão. Bem feito.




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