Poemas de Abril

 

Os medos

 

É a medo que escrevo. A medo penso.

A medo sofro e empreendo e calo.

A medo peso os termos quando falo

A medo me renego, me convenço

 

A medo amo. A medo me pertenço.

A medo repouso no intervalo

De outros medos. A medo é que resvalo

O corpo escrutador, inquieto, tenso.

 

A medo durmo. A medo acordo. A medo

Invento. A medo passo, a medo fico.

A medo meço o pobre, meço o rico.

 

A medo guardo confissão, segredo.

Dúvida, fé. A medo. A medo tudo.

Que já me querem cego, surdo, mudo.

 

José Cutileiro, Os medos, in Versos da mão esquerda

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