Semana da Leitura e do Agrupamento
Entre os dias 16 e 20 do corrente mês tem decorrido no Agrupamento de Escolas da Moita a Semana da Leitura, este ano sob o mote "Palavras do Mundo"; ao mesmo tempo, como já vem sendo hábito, comemora-se a Semana do Agrupamento, com o tema "Sustentabilidade do planeta Terra".
Foi escolhido um texto como base de trabalho, que se integra plenamente nos dois temas da semana: a carta do chefe índio Seattle, escrita em 1854, como resposta à proposta do governo norte-americano de comprar parte das terras da sua tribo.
É esse documento que aqui transcrevemos, como um alerta para a necessidade de respeitar e preservar o planeta em que vivemos.
A NOSSA TERRA É SAGRADA
Carta do Chefe índio Seattle ao Grande Chefe de Washington,
Franklin Pierce, em 1854, em resposta à proposta do Governo norte-americano de
comprar grande parte das terras da sua tribo Duwamish, oferecendo em
contrapartida a concessão de uma reserva.
Como
podereis comprar ou vender o céu? Como podereis comprar ou vender o calor da
terra? A ideia parece-nos estranha. Se a frescura do ar e o murmúrio da água
não nos pertencem, como poderemos vendê-los?
Para
o meu povo, não há um pedaço desta terra que não seja sagrado. Cada agulha de
pinheiro cintilante, cada rio arenoso, cada bruma ligeira no meio dos nossos
bosques sombrios são sagrados para os olhos e memória do meu povo.
A
seiva que corre na árvore transporta nela a memória dos Peles-Vermelhas, cada
clareira e cada inseto que zumbe é sagrado para a memória e para a consciência
do meu povo. Fazemos parte da terra e ela faz parte de nós. Esta água
cintilante que desce dos ribeiros e dos rios não é apenas água; é o sangue dos
nossos antepassados.
Os
mortos do homem branco esquecem a sua terra quando começam a viagem através das
estrelas. Os nossos mortos, pelo contrário, nunca se afastam da Terra que é
Mãe. Fazemos parte dela. E a flor perfumada, o veado, o cavalo e a águia majestosa
são nossos irmãos.
As
encostas escarpadas, os prados húmidos, o calor do corpo do cavalo e do homem,
todos pertencem à mesma família. Se vendermos esta terra, não ireis, decerto,
ensinar aos vossos filhos que ela é sagrada. Como poderei dizer-vos que o
murmúrio da água é a voz do pai do meu pai...
Também
os rios são nossos irmãos porque nos libertam da sede, arrastam as nossas
canoas, trazem até nós os peixes... E, além do mais, cada reflexo nas claras
águas dos nossos lagos relata histórias e memórias da vida das nossas gentes.
Sim, Grande Chefe de Washington, os nossos rios são nossos irmãos e saciam a
nossa sede, levam as nossas canoas e alimentam os nossos filhos.
Se
vos vendêssemos a nossa terra, teríeis de recordar e de ensinar aos vossos
filhos que os rios são nossos irmãos e também seus. E é por isso que devem
tratá-los com a mesma doçura com que se trata um irmão. Sabemos que o homem
branco não percebe a nossa maneira de ser. Para ele um pedaço de terra é igual
a um outro pedaço de terra, pois não a vê como irmã mas como inimiga. Depois de
ela ser sua, despreza-a e segue o seu caminho.
Deixa
para trás a campa dos seus pais sem se importar. Sequestra a vida dos seus
filhos e também não se importa. Não lhe interessa a campa dos seus antepassados
nem o património dos seus filhos esquecidos. Trata a sua Mãe Terra e o seu
Irmão Firmamento como objetos que se compram, se exploram e se vendem tal como
ovelhas ou contas coloridas. O seu apetite devora a terra, deixando atrás de si
um completo deserto.
Não
consigo entender. As vossas cidades ferem os olhos do homem pele-vermelha.
Talvez seja porque somos selvagens e não podemos compreender. Não há um único
lugar tranquilo nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o
desenrolar das folhas ou o rumor das asas de um inseto na Primavera.
O
barulho da cidade é um insulto para o ouvido. E eu pergunto-me: que tipo de
vida tem o homem que não é capaz de escutar o grito solitário de uma garça ou o
diálogo noturno das rãs em redor de uma lagoa? Sou um pele-vermelha e não
consigo entender. Nós preferimos o suave murmúrio do vento sobre a superfície
de um lago, e o odor deste mesmo vento purificado pela chuva do meio-dia ou
perfumado com o aroma dos pinheiros.
Quando
o último pele-vermelha tiver desaparecido desta terra, quando a sua sombra não
for mais do que uma lembrança, como a de uma nuvem que passa pela pradaria,
mesmo então estes ribeiros e estes bosques estarão povoados pelo espírito do
meu povo. Porque nós amamos esta terra como uma criança ama o bater do coração
da sua mãe.
Se
decidisse aceitar a vossa oferta, teria de vos sujeitar a uma condição: que o
homem branco considere os animais desta terra como irmãos.
Sou
selvagem e não compreendo outra forma de vida. Tenho visto milhares de búfalos
a apodrecer, abandonados nas pradarias, mortos a tiro pelo homem branco que
dispara de um comboio que passa. Sou selvagem e não compreendo como uma máquina
fumegante pode ser mais importante que o búfalo, que apenas matamos para
sobreviver.
Tudo
o que acontece aos animais acontecerá também ao homem. Todas as coisas estão
ligadas. Se tudo desaparecer, o homem pode morrer numa grande solidão
espiritual. Todas as coisas se interligam. Ensinai aos vossos filhos o que nós
ensinamos aos nossos sobre a terra: que a Terra é nossa Mãe e que tudo o que
lhe acontece a nós acontece aos filhos da terra.
Se
o homem cuspir na terra, cospe em si mesmo. Sabemos que a terra não pertence ao
homem, mas que é o homem que pertence à terra. Os desígnios terrenos são
misteriosos para nós. Não compreendemos por que os bisontes são todos
massacrados, por que são domesticados os cavalos selvagens, nem por que os
lugares mais secretos dos bosques estão impregnados do cheiro dos homens, nem
por que a vista das belas colinas está guardada pelos “filhos que falam”.
Talvez
um dia sejamos irmãos. Logo veremos. Mas estamos certos de uma coisa que talvez
o homem branco descubra um dia: o nosso Deus é um mesmo Deus. Agora podeis
pensar que Ele vos pertence, da mesma forma que acreditais que as nossas terras
vos pertencem. Mas não é assim. Ele é o Deus de todos os homens e a sua
compaixão alcança por igual o pele-vermelha e o homem branco.
Esta
terra tem um valor inestimável para Ele e maltratá-la pode provocar a ira do
Criador. Que é feito dos bosques profundos? Desapareceram. Que é feito da
grande águia? Desapareceu também. Mas o homem não teceu a trama da vida: isto
sabemos. Ele é apenas um fio dessa trama. E o que faz a ela fá-lo a si mesmo.
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