Sugestão de leitura - Conto tradicional

A ferradura e as cerejas

viveu em tempos um camponês que gostava de passar os dias de domingo com o filho e fazer coisas diferentes, pois passava a semana inteira a trabalhar no campo.
Queria que o rapazinho aprendesse sempre mais e, para isso, não há nada melhor do que a experiência.
E foi assim que numa bonita manhã de Verão, decidiu viajar até à cidade que ficava mais perto da sua aldeia.
O pequeno Miguel ficou muito contente quando o pai lhe disse que iam passear, pois ainda não tinha tido muitas oportunidades para sair e conhecer outros lugares. Mas, ao fim de algum tempo, começou a ficar para trás pois era muito preguiçoso e não lhe apetecia andar.
- Depressa... Temos ainda uma longa caminhada pela frente - lembrou o pai - Sabes, na tua idade, era muito mais curioso do que tu.
Naquele dia, fazia muito calor e a estrada estava coberta de poeira. No entanto, viram uma coisa a brilhar ao longe e, quando se aproximaram, viram que se tratava de uma ferradura.
- Então? De que estás à espera? Vamos, apanha-a!
- Não vale a pena inclinar-me para a apanhar. É uma coisa sem valor - respondeu o rapazinho, que tinha sempre a resposta na ponta da língua.
Sem dizer mais uma palavra, o camponês apanhou a ferradura e guardou-a no bolso das calças.
Pararam na primeira aldeia que encontraram para descansar um pouco. Como conhecia bem aquele lugar, o pai procurou uma loja pequena e depois de trocar algumas palavras com o vendedor, que era seu amigo, conseguiu vender a ferradura em troca de algumas moedas.
Depois, aproximou-se de uma banca de fruta e comprou cerejas.
Quando chegou a altura de continuar a viagem, o pai colocou o seu plano em prática, apressou ainda mais o passo e foi deixando cair as cerejas, uma a uma, enquanto caminhava.
Como era guloso e estava com muita sede, o Miguel parava para apanhá-las e comê-as.
- Valeu a pena apanhar aquela ferradura, não foi? - perguntou o pai em tom de brincadeira.
- É verdade...
O pai sorriu pois tinha a certeza de que o rapazinho não iria esquecer-se nunca daquela experiência de vida.

Naquele dia, o Miguel aprendeu uma lição. Não devia desprezar nada, nem mesmo uma ferradura que estivesse perdida no caminho.

Fonte: Fátima Sobral, Contos tradicionais portugueses, Ed. Impala

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