Sugestão de leitura - Poesia

Gigões e anantes

Gigões são anantes muito grandes.
Anantes são gigões muito pequenos.
Os gigões diferem dos anantes:
uns são um bocado mais, outros um bocado menos.

Era uma vez um gigão tão grande, tão grande,
que não cabia. - Em quê? - O gigão era tão grande
que nem se sabia em que é que ele não cabia!
Mas havia um anante ainda maior que o gigão,
e esse então nem se sabia se cabia ou não!

Só havia uma maneira de dos distinguir:
era chegar ao pé deles e perguntar.
Mas eram tão grandes que não se podia lá chegar!
E nunca se sabia se estavam a mentir!

Então a Ana, como não podia
resolver o problema, inventou uma solução:
xixanava com eles e o que ficava
xubiante ou ximbimpante era o gigão,
e o anante o que fingia que não.

A teoria nunca falhava porque era toda
com palavras que só a Ana sabia.
E como eram palavras de toda a confiança
só queriam dizer o que a Ana queria.

Fonte: Manuel António Pina, O pássaro da cabeça, Ed. Quasi 

Manuel António Pina
 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O 25 de Abril contado às crianças

Nuno Caravela e o Bando das Cavernas

Dia Mundial dos Oceanos - "Mar" de Luísa Ducla Soares